domingo, 7 de setembro de 2014

estereotipo de herois


O herói, ou no caso, o protagonista, pois nem sempre o protagonista de algo é o herói de algo.O protagonista é a peça chave de um enredo e é praticamente IMPOSSIVEL a nível “divisão por zero” fazer um enredo sem um. O protagonista não é a pessoa que faz o enredo se mover(faz o mundo girar), pois esse é papel do vilão, mas o protagonista é a pessoa que faz o enredo se DESENVOLVER, tornando ele assim um ser de extrema importância para algo(Obvious Natalia is Obvious).

Nos games, na maioria das vezes(90% dos casos) é o jogador no papel do protagonista, controlando suas ações.

Mas já perceberam que os protagonistas possuem estereótipos?  Se não percebeu, este artigo esta aqui para falar sobre os mais comuns, e se percebeu, vale a pena checar se você está correto, não acha?

A sim, os estereótipos podem combinar entre si, e isso é bem comum.

Lembre-se que se seu protagonista preferido está em um desses estereótipos, não significa que ele seja ruim ou não possui originalidade. Estereótipos são usados como base na construção da personalidade de um personagem, mas desse ponto em diante, ele pode seguir diversos caminhos que o tornaram único.

Então nada de comentários cheios de ódio e rancor para cima de mim!

O Burro 

Alguns Exemplos:
Tidus de Final Fantasy X, Knuckles the Echidna da serie Sonic, Crash Bandicoot, Lan de Megaman BN.

O herói Burro é um tipo bem comum de herói. Visto em larga escala em animes Shounen mas também nos games.

Você fica se perguntando como uma pessoa assim sabe limpar a própria bunda. O cara chega a níveis de desconhecimento e burrice sem tamanha.

O Herói burro não é só uma besta, mas é conhecido por agir sem pensar, fodendo as estratégias do gênio do grupo algumas vezes, e se tornando preza fácil dos inimigos. Heróis burros geralmente não entendem ou não querem entender o enredo por completo, preferindo uma abordagem mais simplista de tudo.

Heróis burros muitas vezes gostam de lutar e preferem resolver as coisas na pancadaria do que na inteligência. E isso é geralmente o mais surpreendente, porque heróis burros podem ser GÊNIOS na arte do combate(podendo até mesmo realizar complexas estratégias militares) mesmo sem saber somar 2+2. Alias, muitas vezes eles são o líder do grupo! Porque? Não me pergunte...

Principal Exemplo:
Apesar de ter a desculpa de “eu não sou de Spira” para dar, Tidus certamente é bem burro mesmo sobre assuntos não envolventes a Spira e até termos comuns. Sua falta de senso e sua total discrepância em relação ao enredo fazem muitos jogadores se perguntarem porque ele e não a Yuna é o protagonista. São tantos exemplos que posso achar pelo jogo que no caso dele o mais fácil é jogar e ver você mesmo.

O Badass

Alguns Exemplos:
Red de Pokémon, Master Chief de Halo, Samus Aran de Metroid, Kyo Kusanagi de KOF.

Quer eficiência e estilo? O Badass é o seu herói! Ele não só termina o trabalho, mas o faz  com estilo!

Ele sempre tenta realizar suas façanhas da maneira mais espetacular possível,  e as vezes, da maneira mais friamente possível. Muitos de seus golpes, ou estilo de luta, ou forma de agir é totalmente voltado a arrancar “Wows” do telespectador e um mero “Esse ai é foda!” de qualquer pessoa que o veja.

Porem, a um limite que o herói Badass deve seguir, senão, ele se torna o famoso “Badass Forçado”. Quando sua ação vai além de todo bom senso do que é “cool” ele corre o risco de se tornar ridicularizado do que Badass. Em simples palavras: Você pode ser foda, desde que não almeje em ser o Deus de tudo que é foda, pois perfeição é algo artificial nos olhos do telespectador.

Principal Exemplo: 
Muitos se perguntam “Ah? O que o Red de Pokémon tem de especial ao lado de outros badass mais fáceis de notar?”.

Antes de começar, não, o Red não é o Ash, eles são entidades totalmente diferentes. Red é o protagonista dos jogos da primeira geração, da LeafGreen/FireRed e chefe final dos jogos da segunda geração e SoulSilver/HeartGold.

O que o torna diferente de outros protagonistas? Para começar ele foi o primeiro a catalogar todos os Pokemons existentes , até mesmo FORA da região de Kanto. Como chefe dos jogos da segunda geração, seus Pokémons estão entre os de maiores leveis DA SERIE INTEIRA(Por exemplo, o Pikachu dele pode chegar á level 88) e os status de seus Pokémons estão em nível máximo de perfeição para as suas espécies, algo alcançado somente pelo jogador, mas com MUITA sorte envolvida.

E para terminar, o cara te espera no Mt.Silver, um dos lugares mais inóspitos do continente, apenas esperando pela batalha perfeita. Isso sim é ser chamado de “Mestre Pokémon”!

O Silencioso

Alguns Exemplos:
Link de TLOZ, Crono de Chrono Trigger, Gordon Freeman de Half-Life, Classic Sonic.

O Herói mimico, ou Silencioso, é outro tipo comum de herói. Ele praticamente não tem dialogo, muitas vezes se comunicando com gestos. O máximo que você ira ouvir deles são grunhidos. Porem, outros personagens irão agir como se eles tivessem falado algo, mesmo o jogador não lendo/escutando nada.

A explicação para isso é simples: Imersão. O herói sendo mudo abre a possibilidade de o jogador fazer sua própria personalidade ou fazer suas próprias respostas mentais para o que ocorre no jogo. Criando assim um link emocional entre você e o protagonista. 

Outra vantagem é que o herói mimico pode ser qualquer outro tipo de herói também, até um Burro, sem problema nenhum. 

Principal Exemplo: 
Link é famoso por isso. Muitos pessoas acham que ele é mudo, mas em vários jogos da serie Zelda, você pode ver que as pessoas reagem como se ele tivesse falado algo para elas, mas o jogador não pôde escutar. Link é mudo para nós, e não para o jogo.

Em minha opinião, acho que isso da um charme a mais para o personagem. Eu particularmente adoro heróis mímicos, porque acredito que é melhor ter uma personalidade que você pode construir do que ter uma personalidade irritante.
 O Anti-herói

Alguns Exemplos: 
Altair de Assassins Creed, Laharl de Disgaea. Cloud de Final Fantasy VII, Shadow the Hedgehog.

O Anti-herói é considerado por muitos hoje em dia como o “melhor herói”. Para mim só é bom se escrito certo, como qualquer coisa.

O Anti-herói protagonista  é a linha tênue que separa um herói de se tornar um vilão, pois seus modos de alcançar o que ele considera certo na maioria das vezes conflite com a moral, algo que os vilões sempre fazem.  Eles têm o costume de “somente ligar para a missão” e não ligam para efeitos colaterais que possam surgir.

Para um entendimento maior, o Anti-herói é um mal menor que devemos suportar para evitar o mal maior. Anti-heróis geralmente são o que as pessoas chamam de “emos”, dificilmente são alegres, e muita das vezes são lobos solitários e individualistas, não sabendo muito bem trabalhar em equipe.
Pode ter certeza que se a causa não fosse justa, eles seriam vilões de carteirinha.

Principal Exemplo: 
Altair, um frio assassino que aparentemente não demonstra emoções por nada. Matando templários(e qualquer pessoa que interfira) para trazer paz a Terra Santa.

Durante o game, para salvar um cidadão, você simplesmente mata os guardas a sangue frio. . Até a própria ordem dos assassinos que ele serve possui métodos que são severamente questionados moralmente.  Eles não respeitam as leis, matam pessoas e qualquer guarda que interfira, mas tudo isso pelo bem maior que é evitar que os templários vençam.
Cavaleiro de Armadura Brilhante

Alguns exemplos: 
Mario, Sora de Kingdom Hearts, Sonic, Isaac de Golden Sun.

O que o Anti-herói falta de heroísmo, o CAB(Cavaleiro de Armadura Brilhante) tem de sobra.

O cara é a Bondade encarnada, peça ajuda para eles e eles DIFICILMENTE irão recusar, mesmo que seja algo arriscado ou até mesmo estupido por natureza, eles estão ali para ajudar.

Basicamente eles chegam a ser tão gente fina a ponto de serem idiotas e quase se torarem os heróis do tipo “Burro”(caso eles já não sejam). Eles sempre fazem o que é moralmente certo(depende do ponto de vista, logico) e sempre colocam o bem estar de outras pessoas acima do seu próprio, as vezes até mesmo se tornando um mártir.

Muita gente acha esse tipo de herói clichê. Mas eu particularmente acho esse tipo de herói legal, por ser bem mais humano e menos hipócrita que o Anti-herói por exemplo. Mas precisa de um bom escritor, pois esse tipo de herói passa a ficar bem chato se não tiver nada de interessante.

Exemplo Principal: 
Pobre Mario, não importa que o sistema de defesa a realeza na Terra dos Cogumelos seja uma merda, ele sempre salva a Princesa no fim, e nunca se cansa por ela ser tão besta de ser raptada diversas vezes, ele sempre da um jeito de salvar ela.

E ACIMA DE TUDO, ele ainda convida o Bowser, seu arqui-inimigo, para corridas de Kart, jogos de tênis, jogos de golfe e festas com diversos mini-jogos. Esse cara é um santo.

Ele mostra bom coração em outras áreas também, como nos RPG’s que ele atua como Super Mario RPG e Super Star Saga.

Terminando:
Se eu esqueci algum estereotipo COMUM que os heróis possuem, escreva nos comentários.

Espero que tenham achado esse artigo informativo! Até a próxima.


sábado, 6 de setembro de 2014

tá bom por hoje

amanhã continuo postando

A culpa é das estrelas parte 4 de 25

Deitei cedo aquela noite, depois de trocar de roupa, colocar um short, uma camiseta e me enfiar debaixo das cobertas na minha cama de casal enorme, cheia de travesseiros — de todos os lugares no mundo, o meu preferido. Então comecei a ler Uma aflição imperial pela milionésima vez.
UAI é sobre uma menina chamada Anna e sua mãe de um olho só —uma paisagista obcecada por tulipas. As duas levam uma vida típica de classe média baixa numa cidadezinha da Califórnia, até que um dia a Anna é diagnosticada com um tipo raro de leucemia.
Mas esta não é uma história de câncer, porque livros assim são um horror. Tipo, em livros com histórias de câncer, a pessoa que tem o câncer abre uma instituição de caridade para arrecadar dinheiro e ajudar na pesquisa da cura da doença, certo? E o comprometimento com a caridade faz com que essa pessoa seja relembrada da bondade inerente ao ser humano, e se sinta amada e encorajada porque deixará um legado para a erradicação do câncer. Mas, no UAI, a Anna resolve que ser uma pessoa com câncer que abre uma instituição de caridade para ajudar nas pesquisas da própria doença é um tanto narcisista, então monta uma instituição chamada Fundação Anna para Pessoas com Câncer que Querem Curar o Cólera.
Além disso, a Anna é honesta em todos os aspectos, de um jeito que ninguém mais é de verdade: durante todo o livro ela se refere a si mesma como um efeito colateral, o que está absolutamente certo. Crianças com câncer são, no fundo, efeitos colaterais da mutação incessante que tornou a diversidade da vida na face da Terra possível. Aí, no decorrer da história, ela adoece ainda mais, a doença e os tratamentos competindo para ver quem a mata primeiro, e a mãe se apaixona por um vendedor de tulipas holandês que a Anna chama de o Homem das Tulipas Holandês. O Homem das Tulipas Holandês tem muito dinheiro e ideias bastante excêntricas a respeito de como tratar o câncer, mas a Anna acha que esse cara pode ser um vigarista e que talvez não seja nem mesmo holandês, e aí, no momento em que o provável holandês e a mãe dela estão prestes a se casar, e Anna está à beira de iniciar um novo tratamento doido envolvendo grama de trigo e pequenas doses de arsênico, o livro termina bem no meio de uma.
Sei que essa é uma decisão bastante literária, e tal, e muito provavelmente parte do motivo pelo qual eu amo tanto esse livro, mas há um certo atrativo nas histórias que terminam. E se não dá para terem um fim, então pelo menos deveriam continuar indefinidamente, como as aventuras do pelotão do Sargento Max Mayhem.
Entendi que a história acabou porque a Anna morreu ou ficou tão mal que não conseguiu mais escrever, e que essa coisa de interromper a frase no meio pretendia refletir o modo como a vida acaba de verdade, e sei lá o quê, mas havia outros personagens além da Anna, e parecia injusto eu não poder saber o que aconteceu com eles. Escrevi, por intermédio do editor dele, várias cartas para o Peter Van Houten, cada uma pedindo respostas para perguntas relativas ao que acontece após o término do livro: se o
Homem das Tulipas Holandês é um vigarista, se a mãe da Anna acaba se casando com ele, o que acontece com o hamster da Anna (que a mãe odeia), se os amigos da Anna concluem o ensino médio… essas coisas.
Mas ele nunca respondeu a nenhuma das minhas cartas.
UAI foi o único livro escrito por Peter Van Houten, e tudo o que as pessoas pareciam saber a respeito do autor era que depois do lançamento do livro ele se mudou dos Estados Unidos para a Holanda e passou a viver recluso. Imaginei que ele estaria trabalhando numa continuação da história, ambientada na Holanda — talvez a mãe da Anna e o Homem das Tulipas Holandês tivessem se mudado para lá e estivessem tentando
começar uma vida nova. Mas já fazia dez anos que Uma aflição imperial tinha sido lançado, e depois disso o Van Houten não publicou nenhum post num blog sequer. Eu não poderia esperar para sempre. Enquanto lia o livro aquela noite, de vez em quando me distraía ao imaginar o Augustus Waters lendo as mesmas palavras que eu. Será que estava gostando, ou tinha parado no meio por achar o livro pretensioso? Aí me lembrei da promessa que fiz de ligar para ele assim que terminasse O preço do alvorecer, então peguei o número do telefone na primeira página do livro e mandei um torpedo para ele.
Opinião sobre O preço do alvorecer: muitos corpos. Quantidade insuficiente de adjetivos. Como vai o UAI?
Ele respondeu um minuto depois:
Se lembro bem, você prometeu me LIGAR quando terminasse de ler o livro, e não me mandar um SMS.
Aí eu liguei.
— Hazel Grace — ele disse ao atender.
— Você leu tudo?
— Não acabei ainda. O livro tem seiscentas e cinquenta e uma páginas e eu só tive vinte e quatro horas.
— Até onde chegou?
— Página quatrocentos e cinquenta e três.
— E?
— Nada de opiniões antes do fim. Mas tenho de admitir que estou meio envergonhado de ter dado O preço do alvorecer para você ler.
— Não fique. Já estou no Réquiem para Mayhem.
— Um acréscimo brilhante à série. Então tá, me diga, o cara das tulipas é um vigarista ou não é? Estou tendo um mau pressentimento com relação a ele.
— Nada de estragar o suspense — eu disse.
— Se ele for qualquer coisa diferente de um completo cavalheiro, vou arrancar os olhos dele fora.
— Então você está gostando do livro.
— Nada de opiniões antes do fim! Quando posso ver você?
— Com certeza, não até terminar Uma aflição imperial. — Eu adorava fazer jogo duro.
— Então é melhor eu desligar e começar a ler.
— Melhor mesmo — falei, e o telefonema acabou ali.
Paquerar era uma coisa nova para mim, mas eu estava gostando.


* * *


Na manhã seguinte eu tinha aula de Poesia Norte-americana do Século XX no MCC. Uma professora bem mais velha conseguiu falar noventa minutos da Sylvia Plath sem citar uma palavra da Sylvia Plath.
Quando saí da aula, mamãe estava parada no meio-fio na frente do prédio.
— Você ficou esperando aqui o tempo todo? — perguntei quando ela se apressou em me ajudar a puxar o carrinho e o cilindro para dentro do carro.
— Não. Peguei algumas roupas na lavanderia e fui à agência dos correios.
— E depois?
— Trouxe um livro para ler — ela disse.
— E sou eu quem precisa viver a minha vida. — Sorri, e ela tentou sorrir também, mas havia algo estranho em seu sorriso. Depois de alguns segundos, falei: — Que tal um cineminha?
— Boa ideia. Tem alguma coisa que você queira ver?
— Vamos fazer o de sempre: ir até lá e assistir ao filme que estiver para começar.
Ela fechou a porta do carro para mim e andou até o lado do motorista.
Fomos ao cinema Castleton e assistimos a um filme 3-D sobre roedores falantes. No fim das contas, o filme até que era engraçado.


* * *


Quando saímos do cinema, vi que tinha recebido quatro torpedos do Augustus.
Diga que meu exemplar veio com as últimas vinte páginas faltando ou algo assim.
Hazel Grace, diga que eu não cheguei ao fim deste livro.
AI MEU DEUS ELES SE CASAM OU NÃO AI MEU DEUS O QUE É ISSO
A Anna morreu e a história acabou, é isso? CRUEL.
Ligue para mim quando puder. Espero que esteja tudo bem.
Então, quando cheguei à minha casa, fui direto para o quintal, me sentei numa cadeira de vime trançado meio velhinha que havia na varanda, e liguei para ele. O dia estava nublado, como sempre está em Indiana: o tipo de clima que deixa qualquer um deprimido. Ocupando quase toda a área do quintal ficava o balanço que eu usava na infância, e que agora tinha uma aparência toda alagada e patética.
O Augustus atendeu no terceiro toque.
— Hazel Grace — falou.
— Seja bem-vindo à doce tortura que é ler Uma aflição… — Parei ao ouvir um choro convulsivo do outro lado da linha. — Você está bem? — perguntei.
— Ah, maravilha — o Augustus respondeu. — Mas estou aqui com o Isaac, que está meio descompensado. — Mais choro. Como o grito de morte de algum animal ferido. O Gus deu atenção para o Isaac. — Cara. Cara. A Hazel do Grupo de Apoio ajuda ou atrapalha? Isaac. Preste. Atenção. Em. Mim. — Um minuto depois o Gus me perguntou: — Você pode vir até a minha casa em mais ou menos vinte minutos?
— Claro — respondi, e desliguei.


* * *


Se desse para ir em linha reta, eu levaria só uns cinco minutos da minha casa até a do Augustus de carro, mas não dá porque o Holliday Park está entre nós.
Mesmo sendo uma inconveniência geográfica, eu gostava muito do Holliday Park. Quando era pequena, costumava brincar no rio White com o papai, e sempre havia um momento fantástico em que ele me lançava no alto, me jogando para longe, eu esticava os braços durante o voo e papai,os dele, e então ambos víamos que nossos braços não iriam se tocar e que ninguém iria me pegar, o que nos assustava da melhor maneira possível, e aí eu, as pernas agitadas no ar, mergulhava na água e depois subia para respirar, ilesa, a corrente me levando de volta para ele enquanto eu dizia de novo, papai, de novo.
Estacionei na entrada de carros ao lado de um Toyota preto meio antigo modelo sedã. Imaginei que fosse o carro do Isaac. Levando o cilindro no carrinho atrás de mim, andei até a porta de entrada. Bati. O pai do Gus atendeu.
— Só Hazel — exclamou. — Que bom ver você.
— O Augustus disse que eu poderia vir aqui.
— É. Ele e o Isaac estão no porão. — Naquele momento ouvi um choro vindo lá de baixo.
— E esse é o Isaac — disse o pai do Gus, balançando a cabeça devagar. — Cindy precisou sair para dar uma volta de carro. O barulho… — ele falou, divagando. — Bem, de qualquer maneira, acho que você está
sendo requisitada lá embaixo. Posso carregar seu cilindro? — ele perguntou.
— Não precisa, estou bem. Obrigada mesmo assim, Sr. Waters.
— Mark — ele disse.
Eu estava meio com medo de descer. Ouvir gente chorando convulsivamente não é um dos meus passatempos favoritos. Mas fui mesmo assim.
— Hazel Grace — disse o Augustus ao ouvir o ruído dos meus passos. — Isaac, a Hazel do Grupo de Apoio está descendo. Hazel, só para lembrar: o Isaac está no meio de um surto psicótico.
O Augustus e o Isaac estavam sentados em poltronas em formato de L, daquelas próprias para se jogar videogame, olhando para cima, para uma televisão gigantesca. A tela estava dividida entre o ponto de vista do Isaac, à esquerda, e o do Augustus, à direita. Eles eram soldados em guerra numa cidade contemporânea toda bombardeada. Reconheci o cenário como sendo o de O preço do alvorecer. Ao me aproximar, o que vi não tinha nada de anormal: só dois caras sentados, banhados pela luz de uma
televisão enorme, fingindo matar pessoas.
Só quando fiquei bem ao lado deles pude ver o rosto do Isaac. Lágrimas corriam num fluxo contínuo por suas bochechas vermelhas, a cara dele uma máscara de dor. Ele olhava vidrado para a tela, sem virar nem um instantinho na minha direção, aos prantos, o tempo todo apertando os botões do controle.
— Está tudo bem, Hazel? — perguntou o Augustus.
— Estou bem — respondi. — Isaac?
Nenhuma resposta. Nem mesmo uma pista que determinasse se ele estava ou não consciente da minha presença ali. Só lágrimas descendo pelo rosto e encharcando a camiseta preta.
O Augustus tirou os olhos da tela só por um instante.
— Você está bonita — ele disse. Eu usava um vestido que ia até um pouquinho abaixo dos joelhos e que eu tinha há séculos. — As garotas pensam que só podem usar vestidos em ocasiões formais, mas eu gosto da mulher que diz, tipo: Estou indo ver um cara em meio a um colapso nervoso, um cara cuja ligação com o sentido da visão é tênue, e, que se
dane, vou usar esse vestido para ele.
— E mesmo assim — falei — o Isaac não é nem capaz de dar uma olhada rápida em mim. Apaixonado demais pela Monica, só pode ser. — Comentário esse que resultou num choro catastrófico.
— Este é um assunto delicado — o Augustus explicou. — Isaac, não sei por você, mas tenho a vaga impressão de que estamos sendo flanqueados. — E voltou a falar comigo: — O Isaac e a Monica não são mais um casal, mas ele não quer falar sobre isso. Só quer chorar e jogar Counterinsurgence 2: O preço do alvorecer.
— É justo — falei.
— Isaac, estou começando a ficar preocupado com a nossa localização. Caso concorde com isso, vá até aquela usina termoelétrica, e eu cubro você.
O Isaac correu para uma construção indistinta enquanto o Augustus atirava enlouquecidamente com uma metralhadora, numa série de rajadas rápidas, e corria atrás dele.
— De qualquer forma — o Augustus se dirigiu a mim —, não vai fazer nenhum mal falar com ele. Se tiver alguma palavra sábia, algum conselho feminino.
— Para falar a verdade, acho que a reação dele é, provavelmente, a mais apropriada — comentei, enquanto uma rajada da metralhadora do Isaac matou um inimigo que havia colocado a cabeça para fora da carcaça incendiada de um caminhão.
O Augustus fez que sim com a cabeça, ainda olhando para a tela.
— A dor precisa ser sentida — ele disse, e esta era uma frase do Uma aflição imperial. — Você tem certeza de que não há ninguém atrás de nós? — ele perguntou ao Isaac. Momentos depois, balas traçantes começaram a zumbir acima da cabeça deles. — Ai, que droga, Isaac — o Augustus disse. — Não quero criticar você num momento tão sensível como esse, mas deixou que fôssemos flanqueados, e agora não há nada entre os terroristas e a escola.
O personagem do Isaac partiu correndo na direção do fogo cruzado, ziguezagueando por uma passagem estreita.
— Vocês poderiam atravessar a ponte e dar a volta por trás — palpitei, uma tática que conhecia graças à minha leitura de O preço do alvorecer.
O Augustus suspirou.
— Infelizmente, a ponte já está sob o controle dos rebeldes devido à estratégia questionável do meu parceiro desconsolado aqui.
— Eu? — o Isaac disse, ofegante. — Eu?! Foi você quem sugeriu que nos metêssemos no raio da usina termoelétrica. Gus desviou o olhar da tela por um segundo e deu seu sorriso torto para o Isaac.
— Eu sabia que você conseguia falar, meu chapa — ele disse. —
Agora vamos salvar alguns estudantes mirins ficcionais.
Juntos, eles correram pela passagem estreita, atirando e se escondendo nos momentos certos, até chegarem a uma escola de um andar só e com apenas uma sala. Eles se agacharam atrás de uma parede do outro lado da rua e acertaram os inimigos, um a um.
— Por que eles querem entrar na escola? — perguntei.
— Pretendem fazer as crianças de reféns — o Augustus respondeu.
Os ombros dele estavam curvados e ele apertava os botões do controle, os antebraços rijos, as veias visíveis. O Isaac se inclinou para a frente, para a tela, o controle dançando na mão fina de dedos finos.
— Vai vai vai — o Augustus disse.
Ondas de terroristas continuaram surgindo, e eles dizimaram todos, os tiros surpreendentemente precisos, como tinham de ser, para que não acabassem atirando na escola.
— Granada! Granada! — o Augustus gritou quando alguma coisa passou desenhando um arco pela tela, quicou no caminho que levava à entrada da escola e então rolou, parando encostada na porta.
O Isaac largou o controle, de tão frustrado.
— Se esses desgraçados não conseguirem fazer reféns, vão matar todos eles e colocar a culpa em nós.
— Isaac, me cubra! — o Augustus falou ao pular de trás da parede e correr na direção da escola.
O Isaac pegou de volta o controle, sem jeito, e começou a atirar enquanto choviam balas em cima do Augustus, que foi atingido uma vez e depois duas, mas continuou a correr, gritando: "VOCÊS NÃO PODEM MATAR MAX MAYHEM!", e com uma combinação final e afobada de apertos nos botões ele mergulhou em cima da granada, que detonou. Seu corpo desmembrado explodiu como um gêiser e a tela ficou toda vermelha. Uma voz gutural disse: "MISSÃO FRACASSADA", mas o Augustus não parecia concordar com isso enquanto sorria, vendo seus restos mortais na tela. Ele enfiou a mão no bolso, pegou um cigarro e colocou-o entre os dentes.
— Salvamos as crianças — ele disse.
— Por enquanto — observei.
— Todo salvamento é temporário — o Augustus retrucou. — Eu proporcionei a elas mais um minuto. Talvez esse seja o minuto que vai proporcionar a elas mais uma hora, que é a hora que vai proporcionar a elas mais um ano. Ninguém vai dar a elas uma quantidade infinita de tempo, Hazel Grace, mas a minha vida deu a elas mais um minuto. E isso não é pouco.
— Opa, peraí — eu disse. — Estamos falando de pixels aqui. Ele deu de ombros, como se acreditasse que o jogo pudesse ser realmente de verdade. O Isaac estava chorando de novo. O Augustus se virou para ele:
— Vamos tentar completar a missão mais uma vez, cabo?
O Isaac fez que não. Ele se inclinou pela frente do Augustus para olhar para mim e disse, as cordas vocais exigidas ao extremo:
— Ela não quis deixar para depois.
— Ela não quis terminar o namoro com um cara cego — falei. Ele concordou, as lágrimas caindo na cadência de um metrônomo silencioso: constante, interminável.
— Ela disse que não conseguiria lidar com isso — o Isaac falou. — Estou prestes a perder a visão e ela não consegue lidar com isso.
Eu fiquei pensando no verbo lidar, e em todas as coisas não lidáveis com que se tem de lidar.
— Sinto muito — falei.
Ele enxugou o rosto todo molhado na manga da camisa. Por trás dos óculos, os olhos do Isaac pareciam tão grandes que tudo mais no rosto dele meio que desaparecia, e ficavam só aqueles dois olhos flutuantes e incorpóreos olhando para mim: um de verdade, um de vidro.
— Isso é inaceitável — ele me disse. — Isso é totalmente inaceitável.
— Bem, para ser honesta — falei —, quer dizer, ela não deve mesmo conseguir lidar com isso. Você também não, mas ela não precisa. E você, sim.
— Eu ficava dizendo "sempre" para ela hoje, "sempre, sempre, sempre", e ela só continuava falando ao mesmo tempo que eu, sem me escutar, e não disse "sempre" para mim. Era como se eu não estivesse mais ali, sabe? "Sempre" era uma promessa! Como é que você pode não cumprir uma promessa desse jeito?
— Às vezes as pessoas não têm noção das promessas que estão fazendo no momento em que as fazem — falei.
O Isaac me lançou um olhar ferino.
— Tá, tem razão. Mas você cumpre a promessa mesmo assim. Amar é isso. Amar é cumprir a promessa mesmo assim. Você não acredita em amor verdadeiro?
Não respondi. Não tinha uma resposta para aquela pergunta. Mas tive a sensação de que se o amor verdadeiro existisse, aquela seria uma definição bastante boa para ele.
— Eu acredito em amor verdadeiro — o Isaac disse. — Eu amo a
Monica. E ela fez uma promessa. Ela me prometeu para sempre. Ele ficou de pé e deu um passo na minha direção. Eu me levantei, achando que ele queria um abraço ou coisa assim, mas aí ele simplesmente deu meia-volta, como se não conseguisse se lembrar de por que tinha ficado em pé, e então o Augustus e eu vimos uma expressão de ódio tomar conta do rosto dele.
— Isaac — o Gus disse.
— O quê?
— Você parece um pouco… Não leve a mal o duplo sentido, amigo, mas há algo preocupante no seu olhar.
De repente, o Isaac começou a chutar enlouquecidamente a poltrona do videogame, que deu uma cambalhota para trás e foi parar perto da cama do Gus.
— E lá vamos nós — disse o Augustus. O Isaac seguiu a poltrona e chutou a coitada mais uma vez. — Isso aí — falou o Augustus. — Atrás dela. Chute a poltrona até não poder mais!
O Isaac chutou a poltrona de novo, até que ela bateu na cama do Gus, e aí ele pegou um dos travesseiros e começou a bater com ele na parede entre a cama e a prateleira de troféus. O Augustus olhou para mim, o
cigarro ainda na boca, e deu aquele sorrisinho típico dele.
— Eu não consigo parar de pensar naquele livro.
— Nem me fale!
— Ele nunca disse o que acontece com os outros personagens?
— Não — respondi. O Isaac ainda estava batendo na parede com o travesseiro. — Ele se mudou para Amsterdã, o que me fez imaginar que talvez estivesse escrevendo a continuação da história, com o Homem das Tulipas Holandês como personagem principal, mas ele não publicou nada.
Ele nunca é entrevistado. E não parece estar on-line. Já escrevi várias cartas perguntando o que acontece com todo mundo, mas ele nunca responde. Então… é isso.
Parei de falar porque o Augustus não parecia mais estar prestando atenção. Em vez disso, olhava para o Isaac com os olhos semicerrados.
— Espere um instante — ele murmurou para mim, andou até onde o
Isaac estava e o agarrou pelos ombros. — Cara, travesseiros não quebram.
Tente alguma coisa que quebre.
O Isaac pegou um troféu de basquete da prateleira acima da cama e o segurou no alto da cabeça, como se esperasse uma permissão. — Isso — o Augustus disse.
— Isso! — O troféu se espatifou no chão, o braço de plástico do jogador de basquete separado do corpo, ainda segurando a bola. O Isaac começou a pisotear o troféu. — Isso! — disse o Augustus. — Acabe com
ele! — E, se virando para mim: — Já faz algum tempo que venho procurando uma forma de dizer ao meu pai que, na verdade, eu meio que odeio basquete, e acho que encontrei.
Os troféus vieram todos abaixo, um a um, e o Isaac pulava neles e gritava enquanto o Augustus e eu mantínhamos uma certa distância, as testemunhas daquela insanidade. Corpos mutilados de jogadores de basquete de plástico lotaram o chão acarpetado: num canto, uma bola sendo espalmada por uma mão sem corpo; no outro, duas pernas sem tronco no meio de um salto. O Isaac continuou atacando os troféus, pulando neles com os dois pés, gritando, ofegante, suado, até que, por fim, cansou e caiu em cima dos destroços.
O Augustus deu um passo na direção dele e olhou para baixo.
— Está se sentindo melhor? — perguntou.
— Não — murmurou o Isaac, o peito inflando por causa da respiração ofegante.
— Esse é o problema da dor — o Augustus disse, e aí olhou para mim.
— Ela precisa ser sentida.

Viagem ao centro da terra capítulo quatro

 Ele saiu? - exclamou Marthe, acorrendo ao barulho da porta da rua, que abalou a casa inteira pela violência com que foi fechada.
- Saiu mesmo - respondi.
- E o almoço? - resmungou a velha criada.
- Não vai almoçar.
- E o jantar?
- Não vai jantar.
- Como? - disse Marthe, unindo as mãos.
- Minha boa Marthe, ele não vai mais comer, nem ninguém nesta casa! Meu tio Lidenbrock vai obrigar-nos a todos nesta casa a jejuar até decifrar aquele pergaminho indecifrável!
- Jesus! Vamos todos morrer de fome!
Não ousei confessar que, com um homem tão fanático quanto meu tio, era um destino inevitável.
Seriamente alarmada, a velha criada voltou para a cozinha gemendo.
Quando fiquei sozinho, passou-me pela cabeça ir contar tudo a Grauben. Mas como sair de casa? O professor podia voltar a qualquer momento. E se me chamasse? E se quisesse recomeçar o trabalho logogrífico que poderia ser proposto em vão ao velho Édipo? E se eu não acorresse a seu chamado, o que aconteceria?
Era mais sensato ficar. Justamente, um mineralogista de Besançon acabara de nos enviar uma coleção de geodos siliciosos que era preciso classificar. Comecei a trabalhar. Triava, etiquetava e dispunha em sua vitrina todas aquelas pedras ocas dentro das quais se agitavam cristaizinhos.
Mas não consegui me envolver naquela ocupação. O caso do velho documento não deixava de preocupar-me de forma estranha. Minha cabeça fervilhava, e eu me sentia vagamente perturbado. Pressentia uma catástrofe iminente.
Ao final de uma hora, os geodos estavam arrumados. Fui sentar-me na grande poltrona de Utrecht, braços pendentes e cabeça caída. Acendi meu cachimbo de longo tubo curvo, cujo fornilho esculpido representava uma náiade deitada com descontração; depois, diverti-me em seguir as evoluções da carbonização que transformava minha náiade numa negra. De vez em quando, prestava atenção para tentar ouvir algum passo ressoando na escada. Nada. Onde estaria meu tio naquele momento? Via-o correndo sob as belas árvores da estrada de Altona, gesticulando, batendo nos muros com sua bengala, atacando a relva com violência, decapitando os espinhos e perturbando o repouso das cegonhas solitárias.
Como voltaria, triunfante ou desanimado? Quem venceria, o segredo ou ele? Enquanto falava comigo mesmo, peguei maquinalmente entre meus dedos a folha de papel sobre a qual se estendia a incompreensível série de letras traçadas por mim. Perguntava-me todo o tempo:
- O que significa isso?
Tentava agrupar as letras de modo a formar palavras. Impossível! Por mais que as reunisse em grupos de duas, três, cinco ou seis, não dava nada de inteligível. Bem que as décima quarta,décima quinta e décima sexta palavras formavam o termo inglês "ice". A octagésima quarta, a octagésima quinta e a octagésima sexta, formavam a palavra "sir". Finalmente, observei também as palavras latinas "rota", "mutabile", "ira", "nec" e "atra" no corpo do documento.
"Diabos", pensei, "essas últimas palavras parecem dizer que meu tio tem razão quanto à língua do documento! E vejo na linha quatro a palavra "luco", que pode ser traduzida por "bosque sagrado". É verdade que na terceira linha, podemos ler o termo "tabiled", completamente hebraico, e, na última, os vocábulos mer, arc, mSre, puramente franceses ''.
Era de enlouquecer! Quatro idiomas naquela frase absurda!
Que relação poderia haver entre as palavras "gelo, senhor, cólera, cruel, bosque sagrado, mutante, mãe, arco ou mar. Apenas o primeiro e o último teriam uma certa coerência entre si: não era nada surpreendente mencionarem num documento escrito na Islândia um "mar de gelo". Mas daí a entender o resto do criptograma, era outro caso.
Lutava com uma dificuldade insolúvel; meu cérebro fervia, meus olhos piscavam diante da folha de papel. As cento e trinta e duas letras pareciam esvoaçar ao meu redor, como aqueles pontos negros que aparecem no ar quando o sangue sobe muito violentamente à cabeça.
Parecia-me estar vivendo uma alucinação. Sufocava, sentia falta de ar.
Maquinalmente, abanei-me com a folha de papel, e fiquei olhando sucessivamente sua frente e seu verso.
Qual a minha surpresa quando, numa dessas reviravoltas rápidas, no momento em que o verso se voltava para mim, acreditei estar vendo aparecer palavras perfeitamente legíveis, palavras latinas, entre outras, "craterem" e "terrestre"!
De repente, compreendi tudo; esses indícios haviam-me mostrado o caminho da verdade; eu descobrira a lei da cifra. Para entender o documento, nem era necessário lê-lo pela folha invertida! Não. Era assim, assim me fora ditado, assim podia ser soletrado normalmente. Todas as combinações engenhosas do professor realizavam-se.
Tinha razão quanto à disposição das letras, quanto à língua do documento! Nada era necessário para ler do começo ao fim a frase latina, e o acaso acabara de oferecer-me esse "nada".
Dá para imaginar como fiquei emocionado! Meus olhos turvaram-se, tornando-se inúteis. Havia disposto a folha de papel sobre a mesa. Bastava olhá-la para tornar-me detentor do segredo.
Finalmente consegui acalmar-me. Condenei-me a dar duas voltas no quarto para tranqüilizar meus nervos e fui meter-me novamente na vasta poltrona.
- Bem, leiamos - exclamei para mim mesmo, após ter abastecido meus pulmões com muito ar.
Debrucei-me sobre a mesa; colocava meu dedo sobre cada letra e, sem parar, sem hesitar, pronunciei a frase inteira em voz alta.
Por que estupefação, por que desvario fui invadido! Sentia-me como que atingido por um raio. O quê! O que eu acabara de saber acontecera! Um homem tivera audácia suficiente para penetrar...!
"Ah, não", exclamei dando um pulo, "não, não, meu tio não saberá disso! Só faltava ele saber de tal viagem! Vai querer faze-la! Nada conseguirá detê-lo! Um geólogo tão determinado! Vai fazê-la de qualquer forma, apesar de tudo, a despeito de tudo!
E vai levar-me com ele, e nós não voltaremos! Nunca! Nunca!
É difícil descrever minha excitação.
- Não, não, de jeito nenhum - disse com energia -, e como não posso evitar que meu tirano tenha tal idéia, vou fazê-lo.
De tanto virar e revirar esse documento, vai acabar descobrindo sua chave! Vou destruí-lo!
Ainda havia brasas na lareira. Peguei não somente a folha de papel, como também o pergaminho de Saknussemm; as mãos
febris, ia jogar tudo sobre os carvões e aniquilar o segredo perigoso, quando a porta do gabinete abriu-se. Meu tio apareceu.